الاثنين، 1 أبريل 2024


Título: Na velha quinta

Royal Club for Literature and Peace 

Título: Na velha quinta

Autora: Céu Cruz

Título: Na velha quinta 

Autora: Céu Cruz

Hoje voltei ao portão da velha quinta,

aquele silêncio não deixa de me chamar!

É como se as velhas paredes cantassem para mim as velhas cantigas.

O velho cata ventos ficou parado,

como silente o velho galo de latão...

E senti a família a meu lado,

e mergulhei nas velhas lembranças, no silêncio da solidão. 

Como tantas vezes já fiz, recordei.

E se recordar é o que resta,

eu já não sou aprendiz.

Tantas vezes chego à entrada da velha quinta abandonada,

e converso com a parede decrépita!

Se das lembranças eu

já bebi, hoje volto a beber. 

Cada recordação é inédita, é velho o meu almanaque. 

Chove, como tantas vezes chovia,

e de olhos fechados oiço as crianças 

e oiço como a minha mãe ria,

oiço a voz do meu pai,

sorrindo de alegria, enquanto nos ouvia naqueles coros junto ao borralho. E eu remexia a fogueira, que cuspia pela lareira o nosso único agasalho.

Eram tempos de grandes graças,

com fome e frio por companhia,

mas o amor familiar 

ainda hoje m' inebria,

e como era inebriante o sabor de um terno abraço,

e as brincadeiras de adivinhar!

São tão doces as memórias 

que nunca irão acabar. 

E se as minhas visitas não se acabam,

mesmo que as pedras não suportem a parede,

eu volto às minhas raízes 

e aqui mato a minha sêde

dos mil afetos,

das mil saudades de um só abraço,

das amarguras e das perdas

ou apenas do meu cansaço 

de tanto tempo já gasto

que afinal não soube viver. 

Porque as estórias da nossa infância 

na história vivem mil dias, mil anos, e na velha casa caída ainda vão sobreviver. 

Portugal 🇵🇹 01-04-2024 

documentation: Waffaa Badarneh


 


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