Título: Na velha quinta
Royal Club for Literature and Peace
Título: Na velha quinta
Autora: Céu Cruz
Título: Na velha quinta
Autora: Céu Cruz
Hoje voltei ao portão da velha quinta,
aquele silêncio não deixa de me chamar!
É como se as velhas paredes cantassem para mim as velhas cantigas.
O velho cata ventos ficou parado,
como silente o velho galo de latão...
E senti a família a meu lado,
e mergulhei nas velhas lembranças, no silêncio da solidão.
Como tantas vezes já fiz, recordei.
E se recordar é o que resta,
eu já não sou aprendiz.
Tantas vezes chego à entrada da velha quinta abandonada,
e converso com a parede decrépita!
Se das lembranças eu
já bebi, hoje volto a beber.
Cada recordação é inédita, é velho o meu almanaque.
Chove, como tantas vezes chovia,
e de olhos fechados oiço as crianças
e oiço como a minha mãe ria,
oiço a voz do meu pai,
sorrindo de alegria, enquanto nos ouvia naqueles coros junto ao borralho. E eu remexia a fogueira, que cuspia pela lareira o nosso único agasalho.
Eram tempos de grandes graças,
com fome e frio por companhia,
mas o amor familiar
ainda hoje m' inebria,
e como era inebriante o sabor de um terno abraço,
e as brincadeiras de adivinhar!
São tão doces as memórias
que nunca irão acabar.
E se as minhas visitas não se acabam,
mesmo que as pedras não suportem a parede,
eu volto às minhas raízes
e aqui mato a minha sêde
dos mil afetos,
das mil saudades de um só abraço,
das amarguras e das perdas
ou apenas do meu cansaço
de tanto tempo já gasto
que afinal não soube viver.
Porque as estórias da nossa infância
na história vivem mil dias, mil anos, e na velha casa caída ainda vão sobreviver.
Portugal 🇵🇹 01-04-2024
documentation: Waffaa Badarneh
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