Diz-me, amor!       

Royal Club for Literature and Peace

Diz-me, amor!      

Célia Evaristo

Diz-me, amor!

Diz-me, amor,

de que vivem os teus sonhos

a cada anoitecer.

Em quem pensas,

mal acordas,

a cada amanhecer?

Quem procuras no teu tudo

e quem encontras no teu nada?

Diz-me, amor,

quem te completa e te preenche

a cada madrugada.

Quem o teu coração chama,

quando deitas a cabeça na almofada.

Quem esperas ansiosamente

e é deveras a tua amada.

Diz-me, amor,

se sou quem o teu corpo implora.

Se é por mim

que o teu olhar chora.

Diz-me se o teu pensamento

habita no meu ser

e se nem o tempo

me afasta

deste teu viver.

Diz-me, amor,

se alguma vez reparaste em mim,

se alguma vez fui o teu sim.

Diz-me o lugar que ocupo no teu ser,

se é que alguma vez o quiseste fazer.

Diz-me se queres o meu amor

ou se és alheio à minha dor.

Diz-me, amor,

porque eu já não acredito

que te sou indiferente.

Serei apenas uma alma,

um corpo,

um coração

que te sente?

Mas sinto-te tanto,

tanto!

Célia Evaristo

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