Tão só, sou
Royal Club for Literature and Peace
Tão só, sou
João Francisco da Cruz
Tão só, sou
Na noite que adentra e aflora, no âmago da solidão minha, só tenho eu.
Não uso os meus dois relógios, não canto duas canções, não escrevo meus dois versos, ao mesmo tempo.
De tanto tempo que tenho, só tenho um tempo pra mim.
Sou o tempo que me resta, sou tão tão tudo, num momento e um nada na eternidade.
Meus sapatos não são meus, nem o carro na garagem, nem o banco e o seu dinheiro, é de mim, só este tempo.
O que restam são meus ais, meus sorrisos, fantasias, os meus textos que não fogem, nem tão pouco, contrariam.
Sou de mim este meu tudo, o que resta é ilusão, um quadro sem terminar, chuvas com meio trovão.
Enganos, tempo perdido, bolsos furados, risos de alegorias.
Eu não sou dono de nada, um ponto no espaço de alguém, sou só este que sorri, nas noites que me convém.
Sou só eu, o resto é quadro, pinturas tão temporais, tintas que borram com o tempo, terra de vãs quintais.
Que visão, infame máscara, maquiagem que se apaga, sou só poeira no vento, nos vendavais da estrada.
Tenho tanto e nada tenho, neste momento só eu, as estrelas, a madrugada, os meus versos, os cantos meus.
Na noite que adentra...
João Francisco da Cruz
Poeta DRA 03/09/2023
documentation: Waffaa Badarneh
ليست هناك تعليقات:
إرسال تعليق