Me olhando por dentro
Royal Club for Literature and Peace
Me olhando por dentro
João Francisco da Cruz
Me olhando por dentro
Destes caminhos incertos, tantas buscas, pedras bruscas, espinhos de sangue e dor.
Lágrimas e desconsolo, tristeza, atalhos de abrolhos.
Tantas dicas, quantas setas, cruzamentos, labirintos, tantas setas inflamadas.
Muitos olhos me guiando, fustigando, me matando com um ódio de veneno.
Quantos templos, direções, quantos deuses, aguilhões, tanta busca em prol de nada.
Estes caminhos desertos, eu tão cego, tão sedendo.
Se um cego guia um cego, ambos caem na ribanceira.
Perdi meu tempo no vento, olhando o quintal alheio.
Eu mentia pra mim mesmo, eu sorria tão fingido.
Curei as mazelas de mim, reparando meus tumores, untando as feridas de dores.
Feri a ferida tão crua, cauterizou a vergonha tão nua, quebrei a vidraça de mim.
Inda que um tempo oportuno, abri os olhos do ego e contemplei o nada que sou.
Lancei ao lixo o bicho, um pouco do mal que resisto, o trapo sujo que visto.
Retirei as vendas dos olhos e abri os portões de minh'alma.
Um pouco de ser divino, anjo, homem, um menino, habita dentro de nós.
Abri os olhos da feiúra, da vaidade, noite escura, prendi o espelho e os demônios.
Me olhei por dentro, a alma, contemplei o meu jardim, fosco, tosco, já sem flores.
Refiz o solo cansado, arranquei as velhas raízes, plantei de beijos os florais.
Abri os olhos de mim, descobri um pouco de Deus.
João Francisco da Cruz
Poeta 27/08/2023
documentation: Waffaa Badarneh
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